segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Claustrofobico.

       Sabe aquela sensação de que você está preso em uma caixa? Bom, é uma sensação terrível. Principalmente pra quem tem claustrofobia, como eu.

Sofro com esse medo desde os meus dez anos, quando fiquei preso em um maldito elevador. Faltou luz e eu fiquei sozinho no escuro, todo encolhido dentro daquela maldita caixinha de metal. Conseguia apenas gritar, minhas pernas pareciam manteiga e eu tremia loucamente. Nada melhorou quando me tiraram de lá. Passei uma semana em estado de choque, sem trocar uma palavra com quem quer que fosse.
Esse pavor me acompanhou a vida inteira. Não podia entrar em lugares pequenos, corredores apertados e nem em  lugares com o teto baixo . Elevadores você pode imaginar: não passava nem perto. Só de olhar para o brilho das reluzentes portas de metal um arrepio gélido subia pela minha coluna. 
Sim, ficar preso me traumatizou mais do que qualquer um de vocês pode imaginar. A maioria das crianças tinha pesadelos com monstros, palhaços e bonecos assassinos. Eu  tinha terríveis experiências de terror noturno imaginando que as paredes do meu quarto estavam se fechando ao meu redor. Chorava, me debatia e só conseguia dormir quando o meu pai me levava para a varanda e me falava sobre a imensidão do espaço. Um lugar aberto, sem paredes e sem limites. Um lugar simplesmente feito para mim.
É, por muitos anos meu sonho foi ser astronauta. Não deu certo. Assim que eu descobri que o único meio de se chegar ao espaço era entrar em um elevadorzinho que te conduziria a uma salinha na qual você ficaria por horas... Eu desisti. Não me arrependo, desistiria mil vezes se precisasse.
Com tudo isso que eu lhes contei vocês podem entender por que estou extremamente angustiado, inexplicavelmente aterrorizado e indubitávelmente desesperado. Por que da maneira como vivi meus 34 anos, longe de tudo o que fosse pequeno, apertado e estreito , eu nunca imaginaria que terminaria assim. Por que meu pior pesadelo se tornou realidade: eu fui enterrado vivo!

O Velho Soldado

Acendi a luz do lampião com cuidado. Já estava quase na hora do pequeno chegar. Desde o começo do mês aquele jovenzinho vinha ao anoitecer para conversar um pouco comigo. Eu adorava poder falar com ele.
Como sempre o menino chegou com um sorriso largo no rosto. Qualquer pessoa estranharia, pensaria maldade de ver um velho como eu conversando com um garotinho como aquele. Mas eu nunca tive nenhuma má intenção com ele. Na verdade ele fora meu primeiro amigo em muitos anos. Depois que você fica velho as pessoas se esquecem de você…
- Seu Bastião, boa noite! -  tilintou o pequeno.
- Boa noite, Marcelo. – respondi – Como anda meu pequeno soldado?
O garoto riu. Adorava quando eu o chamava de soldado, sentia-se importante. Sentou no batente, do lado da minha cadeira. Começou a me contar como fora o seu dia, com quem brincara e qual fora a brincadeira. Falou-me sobre os cômodos novos que explorara na casa das tias, duas velhas solteironas que moravam no fim da rua, na qual estava passando uma temporada. Além de outras coisas que  preenchem a vida das crianças de hoje em dia.
Quando terminou o garoto estava sem folêgo de tanto falar. Olhou para mim, ainda sorrindo e me pediu que contasse como o meu dia havia sido. Como sempre eu lhe contei que o havia sido entediante e que não tinha nenhuma novidede, mas se ele quisesse ouvir alguma historia da minha juventude eu adoraria entretê-lo. Ele logo se animou. Eu via muito de mim naquele garoto.
Quando mais jovem eu fora soldado. Lutei em revoluções, guerras e em toda sorte de levantes. Comecei minha carreira bem jovem, 16 anos, portanto também me aposentei cedo. Não soube levar uma aposentadoria tranquila, porém. A guerra estava em meu sangue e a calmaria que o envelhecimento trazia não me caiu bem. Aos 50 anos me suicidei, nesta mesma casa onde meu espírito tem vagado.
Boatos se espalharam e muitas pessoas tinha medo de se aproximar da minha casa. Diziam ser assombrada. Bom, de certa forma era verdade, eu estava lá. Mas então esse garoto apareceu e ele não tinha medo de mim. Ele sabia que eu já não estava mais vivo, mas isso não parecia incomodá-lo.  Todo noite ele vinha e eu contava-lhe os meus feitos. Ele parecia satisfeito com isso. Eu também estava.
***
Nossa como eu adorava aquele velho! As histórias deles eram incríveis. Ele lutara em guerras, usara armas e matara pessoas. Fora um herói. Eu queria ser um herói. Penso que seja difícil que isso aconteça, devido as circunstâncias…
Depois que ele terminou a história nós nos despedimos e fui embora. No caminho eu pensava como o velho fora solitário em vida. Esse devia ser um dos sacríficios de ser um grande soldado. O homem se isolara de tal modo que nem sabia que no fim da rua não havia um casarão, mas sim um cemitério.
Era lá que eu estava enterrado. Morri ainda muito novo. Nunca poderei ser um soldado. Mas ainda terei o velho e ele poderá me contar suas histórias… Para sempre…

Birosca


Ponho o lápis no papel e espero que as idéias fluam. Doce ilusão! Faz semanas que não escrevo uma só parágrafo. Tolice minha ficar encarando esta folha. O que será de um escritor sem inspiração como eu?
Levanto-me e jogo o caderno e o lápis dentro da minha velha e surrada mochila. Deixo a mesa desarrumada, assim como ficou a semana inteira. Sobre ela um prato com um pedaço de pizza frio e meio comido, uma xícara com café frio e uma montanha de papéis amassados. Engraçado a facilidade com que as idéias viram bolinhas de papel… Parto então para o bar do Flori.
Floriano é um cara bacana. Deve ter uns oitenta e tantos anos. O pouco cabelo que lhe resta é branco como algodão, seus olhos são acinzentados e sua pele é pálida e fina, como se tivesse sido esticada sobre o seus ossos. Apesar da idade o homem trabalha todos os dias, faça chuva ou faça sol,  sem nunca tirar aquele sorriso largo e amigável do rosto. Acho que o conheço desde sempre.
O bar do Floriano, a “Birosca”, é um lugarzinho calmo e bem localizado, no centro da cidade. Além de ficar a apenas dois quarteirões do meu apartamento. O velho abriu o lugar na década de quarenta e mantém a decoração original: paredes verdes, tolhas-de-mesa de xadrez, mesas e bancos de ferro. Mesmo sendo bastante conhecida, a Birosca é frequentada apenas por um seleto grupo de intelectuais e escritores fracassados, como eu.
Sento à mesa de sempre e tiro o caderno da mochila. Já com o lápis em punho, me ponho a encarar novamente a folha em branco. Ela me propõe um desafio em que eu sei que fracassarei: escreva! Maldigo minha sorte, levanto a cabeça e grito:
- Flori, meu velho, desce uma cerveja que hoje tá foda!
E lá vem o velho com uma garrafa de cerveja e dois copos. Suas mãos tremem, deve ser a idade. Ainda assim o sorriso não abandona o seu rosto, como se ele estivesse prestes a explodir em uma grande gargalhada. Põe os copos na mesa, abre a garrafa com o próprio anel e diz:
- Por minha conta, Alemão. Isso, é claro, se me deixar  que te acompanhe.
Odiava quando me chamavam de alemão. Eu nem era loiro, porra! Mas como eu estava seco por uma cerveja gelada, ainda mais de graça, concordei.
Floriano sentou-se do meu lado e me encarou por alguns segundos. Bebemos um pouco, falamos de futebosl e de mulheres. Nesse ponto o sorriso do velho vacila. Ele suspira e seus olhos ficam marejados. Perfeitamente compreensível, já que sua mulher morrera alguns anos atrás.
Aliás, que morte ridícula! Morreu asfixiada, engasgada com um caroço de azeitona. Era uma boa mulher, pena que não bebia. Todas as noites depois de fechar o bar, se sentava ao balcão, como o marido. Ele preparava um martini, tomava o drink e dava as azeitonas para a esposa chupar. Acho que concordamos que ela teria se saído melhor se bebesse a porcaria do martini e deixasse as azeitonas de lado.
- Amélia, minha querida… – suspirava Flori – Amélia era que era mulher de verdade!
A história dos dois até que era interessante. O pai de Amélia era dono da metade da cidade. Um dos homens mais ricos do Brasil, nos anos quarenta. Ele não gostava nada que a filha namorasse com um rapaz humilde como Floriano. Então os dois casaram sem o concentimento do figurão e fugiram.  O homem  resolveu caçar Flori por todos os lugares, decidido a acabar com a vida do perrapado. No último momento, porém, comoveu-se com o amor que a filha sentia pelo rapaz, que a fez se interpor entre o ele, armado, e o marido. Sendo assim, abençoou a união. Apesar disso, o único bem do ricaço herdado por sua filha foi o sobrado de dois andares que viria a se tornar a Birosca.
Várias vezes tentara convencer o Flori de deixar-me escrever tal história, mas ele dizia que aquilo envolvia pessoas importantes demais e que poderia ser perigoso. Eu duvidava  que qualquer um que tivesse se envolvido nesse episódio, exceto pelo próprio Floriano, estivesse vivo. Pela amizade que tinha com ele, respeitei a sua vontade.
Terminei a cerveja, me despedi do velho e fui-me embora. Andei todo o caminho até minha casa cabisbaixo e chutando, aqui e ali, pedrinhas que apareciam no meu caminho.  O tempo inteiro maldisse a minha sorte: ter uma história como aquela nas mãos e sofrer por não ter o que escrever.
Maldita falta de inspiração!

Jack


Já é tarde da noite. Como sempre, a esta hora, a rua esta quase deserta. A iluminação é fraca e provém na maior parte da luz da lua. Ocasionalmente, avisto um poste ou outro, mas sempre quebrado. Provavelmente vandalizado pelos tipos que por aqui passam.
Whitechapel já foi um respeitável ponto comercial, não mais.  A calçada está coberta de lixo e fezes, além de servir de ponto de convergência para a escória da raça humana: ladrões, prostitutas, pederastas, além de outras párias da sociedade. Aquele lugar precisa ser limpo. E quem melhor do que eu para fazer o serviço?
Não digo que sou superior eles. Na verdade, sou um monstro. Meus irmãos, minha esposa, meus filhos… Todos me odiariam se soubessem da verdade. Mas é mais forte do que eu! Sinto como se elas me chamassem, ansiando por serem punidas. Penso que somente com o sangue delas poderei lavar seus pecados, salvá-las… É isso! Eu não sou um monstro, sou um redentor! Eu irei redimir suas iniquidades e levá-las a salvação…
Esse pensamento me conforta…
Já escolhi minha vítima. É uma vadia ordinária que faz ponto perto da ‘O Muco’. Ela até que é bonita. Loira, baixinha, olhos esverdeados. Lembra-me muito a minha esposa, será perfeito. Devo fazê-la sofrer? Claro! Assim falarão ainda mais do caso e eu poderei rir-me de todos os tolos, que nunca saberão que fui eu.
Posso vê-la daqui. Acabou de sair de um beco, acompanhada de um velho seboso e pançudo. Deve ter sido bem desagradável, pela expressão no rosto dela. Veja: ele ainda nem abotoou as calças! Deus, que nojo…! O patife sorri? Quem sabe meu cutelo terá tempo para cuidar de mais um serviço esta noite… Mas não irei me preocupar com isso agora, preciso me focar no meu objetivo. Hoje a noite começa minha cruzada para livrar Londres dos ratos imundos que povoam suas ruas.
Chego até ela e pergunto se ainda aceita mais um serviço. Algumas delas só procuram o suficiente para conseguir um teto durante a noite. Eu não posso forçá-la. Chamaria muita atenção. Ela deve vir comigo porque quer. Sou como o Flautista Mágico dos contos infantis, atraindo minha presa para uma armadilha definitiva.
A vadia aceita.  A levo a um beco escuro e deserto. Beijo aquela boca imunda enquanto puxo a minha faca de dentro do sobretudo. Ela percebe o movimento, abre os olhos e vê a lâmina em minha mão, já erguida acima de sua cabeça. Aterrorizada, a mulher grita:
- Meu Deus! O quê isso significa? Quem é você?
Um sorriso surge no meu rosto e respondo:
- Isto é sua salvação, meretriz! E eu… EU SOU JACK!

Surge Lex Gravior

Bom dia pessoas… Dia de muita sorte para os nascituros,  e nem tanta para os decujos… Piadinhas juridícas a parte, àqueles que aqui vieram procurando um blog sobre Direito, minhas sinceras desculpas. Estão na página errada. O Lex Gravior surgiu para dar vazão a minha criatividade, que por vezes anda escassa e por outras inunda minha cabeça de uma forma que fica difícil delinear as ideias. Justamente por isso não prometerei constância nos ‘posts’.
Uma breve explicação sobre o nome: Lex Gravior é caracterizada quando uma nova lei surge, sendo essa lei mais grave. Coloquei esse nome por que minhas ideias costumas aumentar de tamanho cada vez que resurgem, depois de um longo período de escassez criativa. MUITO INTERESSANTE, NÃO?
Ok, eu sei que vocês estão morrendo por uma piadinha jurídica, então lá vai: João foi condenado a 20 anos de prisão. Já havia cumprido 19 e 11 meses da pena. Daí veio uma Abolitio Criminis e o crime pelo qual foi condenado deixou de ser considerado crime! HA!

Ok, evitarei as piadinhas jurídicas, elas não tem graça mesmo. Então, sejam bem-vindos e espero que essa página possa servir tanto a mim quanto a você.
Att…


Ps: Esta página foi criada para os usuários do Blogspot poderem adicionar o conteúdo do Lex Gravior aos seus blogs com mais facilidade. O endereço original do blog é este