Sofro com esse medo desde os meus dez anos, quando fiquei preso em um
maldito elevador. Faltou luz e eu fiquei sozinho no escuro, todo encolhido
dentro daquela maldita caixinha de metal. Conseguia apenas gritar, minhas
pernas pareciam manteiga e eu tremia loucamente. Nada melhorou quando me
tiraram de lá. Passei uma semana em estado de choque, sem trocar uma palavra
com quem quer que fosse.
Esse pavor me acompanhou a vida inteira. Não podia entrar em lugares
pequenos, corredores apertados e nem em
lugares com o teto baixo . Elevadores você pode imaginar: não passava
nem perto. Só de olhar para o brilho das reluzentes portas de metal um arrepio
gélido subia pela minha coluna.
Sim, ficar preso me traumatizou mais do que qualquer um de vocês pode
imaginar. A maioria das crianças tinha pesadelos com monstros, palhaços e bonecos
assassinos. Eu tinha terríveis experiências
de terror noturno imaginando que as paredes do meu quarto estavam se fechando
ao meu redor. Chorava, me debatia e só conseguia dormir quando o meu pai me
levava para a varanda e me falava sobre a imensidão do espaço. Um lugar aberto,
sem paredes e sem limites. Um lugar simplesmente feito para mim.
É, por muitos anos meu sonho foi ser astronauta. Não deu certo. Assim
que eu descobri que o único meio de se chegar ao espaço era entrar em um
elevadorzinho que te conduziria a uma salinha na qual você ficaria por horas...
Eu desisti. Não me arrependo, desistiria mil vezes se precisasse.
Com tudo isso que eu lhes contei vocês podem entender por que estou
extremamente angustiado, inexplicavelmente aterrorizado e indubitávelmente
desesperado. Por que da maneira como vivi meus 34 anos, longe de tudo o que
fosse pequeno, apertado e estreito , eu nunca imaginaria que terminaria assim.
Por que meu pior pesadelo se tornou realidade: eu fui enterrado
vivo!
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