Já é tarde da noite. Como sempre, a
esta hora, a rua esta quase deserta. A iluminação é fraca e provém na
maior parte da luz da lua. Ocasionalmente, avisto um poste ou outro, mas
sempre quebrado. Provavelmente vandalizado pelos tipos que por aqui
passam.
Whitechapel já foi um respeitável ponto
comercial, não mais. A calçada está coberta de lixo e fezes, além de
servir de ponto de convergência para a escória da raça humana: ladrões,
prostitutas, pederastas, além de outras párias da sociedade. Aquele
lugar precisa ser limpo. E quem melhor do que eu para fazer o serviço?
Não digo que sou superior eles. Na verdade,
sou um monstro. Meus irmãos, minha esposa, meus filhos… Todos me
odiariam se soubessem da verdade. Mas é mais forte do que eu! Sinto como
se elas me chamassem, ansiando por serem punidas. Penso que somente
com o sangue delas poderei lavar seus pecados, salvá-las… É isso! Eu não
sou um monstro, sou um redentor! Eu irei redimir suas iniquidades e
levá-las a salvação…
Esse pensamento me conforta…
Já escolhi minha vítima. É uma vadia
ordinária que faz ponto perto da ‘O Muco’. Ela até que é bonita. Loira,
baixinha, olhos esverdeados. Lembra-me muito a minha esposa, será
perfeito. Devo fazê-la sofrer? Claro! Assim falarão ainda mais do caso e
eu poderei rir-me de todos os tolos, que nunca saberão que fui eu.
Posso vê-la daqui. Acabou de sair de um
beco, acompanhada de um velho seboso e pançudo. Deve ter sido bem
desagradável, pela expressão no rosto dela. Veja: ele ainda nem abotoou
as calças! Deus, que nojo…! O patife sorri? Quem sabe meu cutelo terá
tempo para cuidar de mais um serviço esta noite… Mas não irei me
preocupar com isso agora, preciso me focar no meu objetivo. Hoje a noite
começa minha cruzada para livrar Londres dos ratos imundos que povoam
suas ruas.
Chego até ela e pergunto se ainda aceita
mais um serviço. Algumas delas só procuram o suficiente para conseguir
um teto durante a noite. Eu não posso forçá-la. Chamaria muita atenção.
Ela deve vir comigo porque quer. Sou como o Flautista Mágico dos contos
infantis, atraindo minha presa para uma armadilha definitiva.
A vadia aceita. A levo a um beco escuro e
deserto. Beijo aquela boca imunda enquanto puxo a minha faca de dentro
do sobretudo. Ela percebe o movimento, abre os olhos e vê a lâmina em
minha mão, já erguida acima de sua cabeça. Aterrorizada, a mulher grita:
- Meu Deus! O quê isso significa? Quem é você?
Um sorriso surge no meu rosto e respondo:
- Isto é sua salvação, meretriz! E eu… EU SOU JACK!
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